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Performances, cânticos e poesias permearam os debates

A tarde foi da mulherada na programação do Festival de Capoeira – Ancestralidade e Resistência. A segunda edição do Encontro sobre Protagonismo Feminino reuniu dezenas de mulheres no Espaço Xisto Bahia. Em pauta, a luta pela igualdade, respeito e visibilidade dentro e fora das rodas de capoeira.
Coordenado pela Mestra Princesa, o Encontro foi apresentado pela Contramestra Tartaruga, com mediação da Mestra Patrícia e participações da Mestra Janja, Mestra Malu e Mestra Carol. Performances, cânticos e poesias permearam os debates, com apresentações da capoeirista Borboleta, Professora Odara e do Movimento Karapaça.


Mestra Janja, pesquisadora da capoeira reconhecida internacionalmente e coordenadora do Encontrro, abriu os discursos falando sobre como a capoeira surgiu em sua vida. “Eu nasci em Feira de Santana, sou filha de um casamento interracial, fui criada dentro de uma família na qual eu poderia dizer que eu fui a primeira mulher preta. Obviamente, naquele ambiente eu descobri o racismo. Não verbalizado, mas o racismo que se manifestava de diversas formas. Os sonhos possíveis, pra mim, eram aqueles que me faziam sair do lugar, sempre. E a capoeira, ela entra na minha vida apresentando também esses rigores na vida”, disse.


Mestra Malu ressaltou a parceria da família: “Esse lugar é para a gente organizar a revolução. Então, estar aqui é necessário. Eu tenho o prazer e a honra de ter quatro filhos, de ter um companheiro Mestre de capoeira. Eu sou da linhagem de Palmares, meus mestres foram homens, fui formada na capoeira por eles. Uma mulher formada por mim vai falar de outro lugar, de uma nova perspectiva, por isso é importante ter Mestras. No tempo que eu aprendi, as mulheres falavam pouco. Hoje eu aprendi que temos e precisamos falar muito”.

Mestra Carol encerrou o Encontro com sua contribuição pessoal sobre um tema pouco discutido: a manutenção das mulheres gestantes e com filhos na capoeira. “A capoeira pra mim é uma revolução diária. Comecei com 17 anos, hoje tenho 47. Não consegui me distanciar mais. Porque a medida que ia jogando, ia criando raízes profundas na capoeira. Naquele tempo eu já percebia que a roda era escassa de mulheres, hoje vendo as meninas fazer esse movimento aqui, me deu uma leveza, eu pensei: não poderia ter sido assim lá atrás, mas não foi, e por isso que hoje a gente está aqui para fortalecer aquelas que estão chegando. Eu lembrei das minhas dores quando eu tive filho. Os mestres falavam tanto que a capoeira é a roda da vida. Mas quando a mulher tem filho, ela fica isolada. A mulher não deixa de ser capoeirista, pelo contrário, ela gera na barriga o futuro da capoeira”, finalizou.

Fotos: Alex Sander e Fernando Udo

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