Skip to main content

Ação fez parte do 3° Festival de Capoeira: Ancestralidade e Resistência

Homens e mulheres capoeiristas foram às ruas nesta sexta-feira (14) pressionar as autoridades a aderirem a inclusão da capoeira nas escolas públicas da rede municipal e a abrangência do “Qualifica Capoeira”, programa de capacitação e certificação gratuita dos profissionais. Intitulada ‘Berimbalada’, o protesto ecoou pelas ruas ao ritmo do grupo Swing do Pelô e ao som dos berimbaus durante uma caminhada que iniciou na Biblioteca Central, nos Barris, e culminou na Praça Thomé de Souza, no Centro Histórico de Salvador, berço da histórico-cultural e importante polo da capoeira. A iniciativa integra as ações do 3° Festival de Capoeira: Ancestralidade e Resistência.

Lei estadual de autoria da deputada estadual Olívia Santana (PCdoB), regulamentada em 2024 pelo governador Jerônimo Rodrigues (PT), a capoeira já está presente em cerca de 600 escolas da rede estadual e beneficia mais de 14 mil estudantes. No entanto, o PL Moa do Katendê que transitou na esfera municipal foi vetado por decisão do executivo e legislativo da capital baiana. O coordenador do CMB Jurandir Júnior (Jacaré DiAlabama), também organizador da Berimbalada, clamou por direitos.

“Mais uma vez a história se repete, tentaram impedir a nossa voz, tentaram impedir a caminhada da capoeira rumo ao desenvolvimento, mas nós, mais uma vez, não nos calamos e não aceitamos. Chegamos à Praça Municipal para garantir a nossa reivindicação. Não pedimos nada mais que reconhecimento. A capoeira é um elemento de identidade cultural do nosso povo e por isso estamos aqui, exigindo a capoeira nas escolas públicas. Assim como já está sendo feito no estado da Bahia, nós queremos que seja feito em cada município, pela preservação da nossa cultura, pela preservação da nossa identidade. É por isso que está aqui o CMB, a Salvaguarda da Capoeira, e é por isso que existe o Festival de Capoeira: Ancestralidade e Resistência. É mais do que um evento, é a capoeira em movimento”, manifestou.

Mestre de Capoeira e multiartista, Tonho Matéria também participou do ato e ressaltou o teor do manifesto, cobrando das autoridades mais projetos de desenvolvimento para o setor. “A Berimbalada é a luta de resistência. São os berimbaus conclamando nas ruas, pedindo ao estado brasileiro que cuide da capoeira. Que executem políticas públicas direcionada à área da saúde para os mestres antigos, que zele pela juventude, que coloque a capoeira nas escolas. A gente não tá fazendo uma luta partidária, a gente tá fazendo uma luta da política, social, cultural e econômica. A gente precisa melhorar nosso estado, nosso país, para que a capoeira que já tem reconhecimento nacional e internacional, vire direitos para os capoeiristas, para que nós não sejamos lembrados só no novembro negro”.

Fundadora do Centro de Capoeira Angola OuroVerde, em Uruçuca, sul do estado, Mestra Tisza dedicou grande parte de sua vida para a capoeira. Ela foi uma das muitas mulheres que estiveram na linha de frente da Berimbalada e reconheceu a reivindicação como uma causa coletiva. “A capoeira não é só movimento físico que você joga a perna para cima. Ela constrói indivíduos, ela fortalece identidades e ela propicia um caminho para a população negra da Bahia e do Brasil, principalmente os jovens. É extremamente necessário que a gente consiga despertar o orgulho de todos os jovens do nosso estado para esse símbolo tão grande e necessário para as comunidades. Então essa Berimbalada é o nosso grande standart: trazer para todas as escolas a capoeira como instrumento de educação”, afirmou.

Uma luta de todos

Alunos de capoeira e estudantes da rede pública de Salvador também exerceram a cidadania e a liberdade e marcharam junto aos mais velhos para expor o descontentamento com a escassez de recursos que a capoeira enfrenta. Isaque Silva, de 16 anos, praticante de capoeira desde os 8, foi um deles. O adolescente argumentou que o manifesto é um passo importante para a inclusão da capoeira nas escolas do município.

“A capoeira nas escolas seria bom pra todos. Porque muita gente tem vontade de praticar, mas não tem condições de pagar ou não conhece algum grupo que ofereça aula gratuita. Acho que com a Berimbalada a gente pode conseguir essa conquista, mas não depende só da gente”.

Capoeira nas escolas municipais de Salvador vetada

Regulamentada em novembro de 2024 pelo Governo da Bahia, a lei Moa do Katendê (14.341) tem o intuito de proteger e incentivar a prática da capoeira no Estado, através da sua inclusão no currículo das escolas públicas. No entanto, o texto municipal, ancorado na Projeto de Lei nº 170/2022, apresentado pelo então vereador Augusto Vasconcelos, sofreu veto do prefeito de Salvador, Bruno Reis, que foi mantido pela maioria da Câmara Municipal. Coletivos negros e da capoeira, como o CMB, segue na luta pela reversão da decisão.

Leave a Reply