Cerimônia aconteceu nesta quinta-feira (2), na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, Pelourinho
Os cânticos ancestrais tomaram conta do Pelourinho, em Salvador, para anunciar a abertura da 2ª edição do Festival de Capoeira Ancestralidade e Resistência. Na noite desta quinta-feira (02/05), uma “berimbalada” com Mestres de capoeira percorreu o bairro rumo à Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, importante símbolo da história do povo negro, que se tornou palco da retomada do evento após dois anos. No local, acontecia simultaneamente uma missa especial em homenagem à São Benedito, santo negro cultuado pelos escravizados. O ato cultural-religioso contou com a presença da comunidade da capoeira, autoridades políticas e sociedade civil.
A celebração foi conduzida pelo Padre Lázaro, com intervenção musical da alta hierarquia da capoeira: os Mestres Griôs, guardiões dos saberes e história da arte ancestral. Entre eles: Mestre Curió, Mestre Pelé da Bomba, Mestre Jorge Satélite, Mestre Lua Rasta, Mestre Alabama, Mestre Baiano, Mestre Boca Rica, Mestre Zé do Lenço, Mestre Nô, Mestre Olavo da Bahia e Mestre Santa Rosa. Na ocasião, o Mestre Tonho Matéria pediu um minuto de silêncio em memória do Mestre Brandão, que faleceu poucos dias antes do início do Festival.
Em um discurso-protesto, o coordenador-geral do Festival de Capoeira, Jacaré DiAlabama, falou sobre as dificuldades enfrentadas pelo povo que ginga e a importância da salvaguarda da capoeira. “Estamos no Pelourinho, um lugar mágico aos olhos de muitos, mas que guarda marcas profundas do racismo. Esse lugar deve muito aos ilustres da capoeira que aqui viveram e ainda vivem. Foi a capoeira da Bahia que ajudou a levar essa terra para ser vista em todo planeta, ou seja, a sociedade e o poder público tem uma grande dívida conosco em razão do abandono que sofremos. Nesse ato de abertura, quero pedir licença à ancestralidade para que tenhamos um encontro enriquecedor em todos os sentidos”, disse.
Representando as mulheres da capoeira, a Mestra Princesa explicou a ausência de Mestras griôs no ambiente e reiterou sua postura diante a luta pelo protagonismo feminino na capoeira. “Muitas vezes a sociedade não entende que nós também fazemos parte do contexto histórico da capoeira, mas estávamos atrás das cortinas. As Mestras que foram chegando devagar, aos poucos ocupando os espaços, por isso que hoje não temos Mestras griôs. Mas esse cenário está mudando e casa vez mais as mulheres se fazem presente nas rodas e espaços de discussões da capoeira”.
Diversas autoridades prestigiaram o evento, entre elas, a deputada estadual Olívia Santana (PCdoB). A parlamentar reforçou a necessidade de implementação do PL Moa do Katendê, que pretende levar a capoeira para as escolas públicas da Bahia. “Esse festival celebra também a memória e eternidade dos nossos ancestrais, como Mestre Moa, que dá nome a um projeto de extrema importância que visa levar a capoeira para as escolas, como instrumento didático, e precisa ser regulamentado já! A capoeira merece!”.
O secretário Davidson Magalhães, titular da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (SETRE) celebrou o retorno do evento: “O Festival de Capoeira é abraçado pelo Governo do Estado, através da SETRE, porque entendemos a importância da difusão da capoeira. Ela carrega a resistência do povo negro e faz parte da nossa formação. Estamos acompanhando esse projeto desde sua primeira edição, garantindo que a capoeira ganhe destaque e seja muito bem representada”.
Já a titular da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionais (Sepromi), Ângela Guimarães, reforçou o compromisso do órgão nas políticas de incentivo à capoeira: “Somos o estado que aprovou primeiro o estatuto da igualdade racial e combate a intolerância religiosa, então que a gente possa avançar também com políticas de reconhecimento aos nossos Mestres e Mestras, políticas de editais que fortaleçam eventos culturais de capoeira nas comunidades e no avanço da regularização da lei Moa do Katendê”. Outros representantes políticos e sociais também marcaram presença, como a vereadora Aladilce Souza (PCdoB) e o cientista social e ativista, Kleber Rosa.
A cerimônia de abertura foi finalizada no Largo Terreiro de Jesus, com a Roda de Abertura. Comandada pelo Mestre Tonho Matéria e com participação do Mestre Grandão, Mestre Duda, Mestre Muralha, entre outros. “Graça a Deus e aos ancestrais da capoeira conseguimos realizar esse sonho coletivo que é mais um Festival de Capoeira. A Roda de Abertura é um encontro de grandes Mestres e uma oportunidade de aprendizado. Estou muito feliz em participar de tudo isso e vida longa ao Festival”, disse Mº Tonho, que coordena o eixo Capoeira Tem Ancestralidade.
O Festival de Capoeira Ancestralidade e Resistência é uma realização do grupo Capoeira em Movimento Bahia (CMB) com o patrocínio do Governo da Bahia, através da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre/SUDESB). Nesta edição, o Festival se divide em 7 eixos temáticos que buscam promover a diversidade, são eles: Capoeira tem Resistência; Capoeira tem Erê; Capoeira tem Magia; Capoeira tem Criatividade; Capoeira tem Ancestralidade; Capoeira tem Diversidade e ainda o eixo temático Capoeira tem Ginga pelo Mundo.
Fotos: Alex Sander e Fernando Udo










